Inspira profundamente de forma suave. Volta a beijá-lo como não fazia, para ela, há muito tempo.
Ele olha para ela e diz:
– Fugir da realidade é essencial. - e continua - Quando não tiver o que ler, escreva. Quando não tiver o que comer, invente. Assim como uma sopa fica mais gostosa e divertida com as "surpresas" que encontramos nela, ou colocamos temperos e umas torradas para incrementar. Imagino que foi assim que inventaram o cozido. - ri para dentro.A fantasia argumenta com o autor para justificar a futura reflexão, aparentando o início do pensamento que irá direcioná-lo sozinho.
Um conjunto de lições convertidos em pessoa; Diálogo perfeito, flerte inteligente, aprendizados compartilhados de maneira sábia.
Só não condiz com a realidade. - pensa.
- Mas, "fugir da realidade é essencial". - a fantasia interfere.
Nada consegue ser perfeito. E buscar a perfeição é se amar mais do que abrir espaço para amar alguém e deixar acontecer cada parte dos seres.
Fácil amar o próximo quando esse é próximo. Desafio é enfrentar o Eu na batalha que, travadamente, sabe que tem de perder para que, o próximo, com personalidade tão distante, faça do teu coração um latifúndio.
E a outra face é dada 70x7. O adversário é perdoado.
Porque, então, não perdoar a si mesmo dos erros se não somos perfeitos?
Nossa doce ilusão é disfarçar; pensar que nos amamos o suficiente como queremos fazê-lo.
Assim, a ideia de perfeição se desfez. Ninguém é dono da verdade.
Somos mutantes que fazem a verdade, porém, a encaramos com tamanha solidez que esquecemos o quão falhos com isso nos tornamos.